tag:blogger.com,1999:blog-79172058570574264062024-02-20T20:06:36.202+00:00Pensamento do Meio-DiaHugo Mendeshttp://www.blogger.com/profile/05566359753338952544noreply@blogger.comBlogger80125tag:blogger.com,1999:blog-7917205857057426406.post-75450910209073151882008-10-22T20:42:00.013+01:002008-10-22T22:05:14.425+01:00Tendências<div align="justify">O post anterior o Hugo chama a atenção para um dado importante: Portugal é um dos países mais desiguais da Europa (e também da OCDE), mas isso não significa que os níveis de pobreza tenham aumentado expressivamente nos últimos anos. Os resultados do relatório da OCDE confirmam, parcialmente, esta evidência, tal como tive oportunidade de <a href="http://observatorio-das-desigualdades.cies.iscte.pt/index.jsp?page=news&id=7">referir neste texto</a>. Na verdade, dados mais recentes foram apresentados por Carlos Farinha Rodrigues, que publicou um estudo onde se confirma esta evolução (pode ser lido <a href="http://observatorio-das-desigualdades.cies.iscte.pt/index.jsp?page=indicators&lang=pt&id=37">aqui</a>). Nele se pode ler, por exemplo, que a proporção do rendimento disponível auferido pelos 20% mais pobres aumentou ligeiramente de 7,4%, em 1994, para 7,7%, em 2005. O problema é que no 5º quintil não se verifica uma diminuição da proporção do rendimento auferido (mantém-se nos 42,8%). Quem parece perder (em proporção) são os estratos de rendimento intermédio, situação que não é específica de Portugal.</div>Renato Carmohttp://www.blogger.com/profile/17270814504728093030noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7917205857057426406.post-41971930620612692422008-10-21T17:06:00.004+01:002008-10-21T17:08:38.932+01:00Discutir o(s) capitalismo(s)<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg_tWPi8S5277VAtUB0ZzBqaJ6qU_atz-2QOoj5L00zZtCRSqis-woJioK8bqFg7aCJTQGAJ28qRgZ1dmlY8DtV7DMQPRgHiZ6uQP3jNyRENthaa0nEflf2Wml0-2Kt8kfdxwPy5FyxEyE/s1600-h/sem+nome3.gif"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5259639529489503138" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg_tWPi8S5277VAtUB0ZzBqaJ6qU_atz-2QOoj5L00zZtCRSqis-woJioK8bqFg7aCJTQGAJ28qRgZ1dmlY8DtV7DMQPRgHiZ6uQP3jNyRENthaa0nEflf2Wml0-2Kt8kfdxwPy5FyxEyE/s320/sem+nome3.gif" border="0" /></a><br /><div><div>Nos últimos dias têm sido publicados alguns relatórios internacionais, em particular o relatório anual da <a href="http://www.ilo.org/public/english/bureau/inst/download/world08.pdf">Organização Internacional do Trabalho</a> (apresentação <a href="http://www.ilo.org/global/About_the_ILO/Media_and_public_information/Press_releases/lang--en/WCMS_099406/index.htm">aqui</a>, sumário executivo <a href="http://www.ilo.org/public/english/bureau/inst/download/summ08.pdf">aqui</a>) e um da <a href="http://www.oecd.org/document/53/0,3343,en_2649_33933_41460917_1_1_1_1,00.html">OCDE</a>. Ambos incidem sobre a questão das desigualdades e crescimento, embora o primeiro uma forte ênfase na análise dos efeitos da globalização financeira sobre os dois primeiros tópicos. Vale a pena abordar alguns dos elementos nos próximos dias. É importante sublinhar, no entanto, o seu timing perfeito para discutir o presente o futuro do(s) capitalismo(s) a nível global. </div><br /><div><br />Como ilustração, deixo este quadro relativo à evolução do rendimento disponível pelos agregados familiares entre meados dos anos 80 e 90, e entre meados dos anos 90 e meados desta década. Vemos que em Portugal (onde o último ano de referência é 2000, ver nota 1), durante o primeiro período, o rendimento dos agregados do quintil mais pobre cresceu mais lentamente do que o mais rico (taxa de crescimento anual de 5.7% contra 8.7%); mas entre meados dos anos 90 e o ano de 2000 o crescimento beneficiou os mais pobres: os agregados do quintil mais pobre viram o seu rendimento disponível crescer a uma média de 5% por ano, enquanto os do quintil mais rico 'apenas' cresceram a um ritmo de 4.4.% por ano. </div></div>Hugo Mendeshttp://www.blogger.com/profile/05566359753338952544noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7917205857057426406.post-79130338925199118242008-10-20T12:33:00.004+01:002008-10-20T12:51:32.354+01:00Ritmos diferentes<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjAPOK5259UCZibdsKQJp_xW3v6mvbS4bGuqwi4uB9ONTbCwjljtfr_KCXM0nvIyoJ_2iQUzu55Bg9hJfS0vqpQt_1yYENjTTWPH98V0vfsXWsiOIhEuR_hyphenhyphenKJaLZIwXY_zxD8g0XlhAB4/s1600-h/sem+nome1.gif"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5259197851819805506" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjAPOK5259UCZibdsKQJp_xW3v6mvbS4bGuqwi4uB9ONTbCwjljtfr_KCXM0nvIyoJ_2iQUzu55Bg9hJfS0vqpQt_1yYENjTTWPH98V0vfsXWsiOIhEuR_hyphenhyphenKJaLZIwXY_zxD8g0XlhAB4/s320/sem+nome1.gif" border="0" /></a><br /><div>Tem havido muito alarme e discussão sobre o desemprego de recém-licenciados, que tem aumentado nos últimos anos. Independentemente da proporção do problema, o quadro aqui colocado (retirado do <em>Education at a Glance 2008</em>, que pode ser consultado <a href="http://www.oecd.org/dataoecd/23/46/41284038.pdf">aqui</a>) ajuda a perceber o que pode ter criado a situação actual: se em 1995 apenas 15% dos jovens (em idade habitual de finalização de um curso superior) completavam uma licenciatura (coluna <em>Tertiary-type A</em>), em 2006 era um terço da coorte que o fazia - 33%. Em pouco mais de uma década, a percentagem de jovens a sair com um curso superior mais do que duplicou no nosso país.</div><div></div><div>Isto ajuda a perceber as dificuldades actuais: a estrutura de formação universitária tem mudado de forma mais muito rápida do que a estrutura dos empregos.</div>Hugo Mendeshttp://www.blogger.com/profile/05566359753338952544noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7917205857057426406.post-66223050380755708922008-09-22T00:05:00.003+01:002008-09-22T14:49:05.418+01:00We are Americans<div align="justify">Enquanto estava a ver uns dados sobre desigualdades nos E.U.A., não deixei de notar algumas semelhanças ao nível da distribuição de rendimento entre este país e o nosso pequeno rectângulo. Por intermédio de um mero exercício analítico (vale somente como tal), comparei as percentagens sobre a repartição do rendimento total por 'quintil' referentes as estas duas economias nacionais. Para o caso português utilizei os dados divulgados por <a href="http://pensamentodomeiodia.blogspot.com/2008/09/desigualdades-no-mdiplo.html">Carlos Farinha Rodrigues na última edição do Le Monde Diplomatique (edição portuguesa)</a> e para a realidade Americana recorri aos valores apresentados <a href="http://www.paradigmpublishers.com/books/BookDetail.aspx?productID=151496">neste livro</a> (p.56):</div><br />.....................................................EUA (2004).... Portugal (2005)<br /><br />1º quintil (20% mais 'pobres')..............4,2%................7,7%<br /><br />2º quintil.........................................9,6%...............12,1%<br /><br />3º quintil.........................................15,4%.............15,9%<br /><br />4º quintil.........................................23,0%.............21,5%<br /><br />5º quintil (20% mais 'ricos')................47,9%.............42,8%<br /><br /><br /><div align="justify">A semelhança é impressionante. É uma comparação grosseira mas reveladora no que diz respeito aos níveis de concentração de rendimento em torno dos 20% mais ricos. Estamos perante dois países muito diferentes em quase tudo (área territorial, volume populacional, graus de riqueza e de desenvolvimento, modelo económico, modelo social, etc.). E, no entanto, em termos das desigualdades económicas (salvo as devidas proporções) estamos muito próximos. O que é estranho, dado que estas últimas três décadas representam para Portugal o período de implantação e suposta consolidação do Estado Social e democrático, enquanto que para o EUA estes são os anos de desmantelamento dos serviços (e dos direitos) públicos. Afinal, o que falhou em Portugal? Entre os americanos a discussão e os debates (sobre as raízes do problema e as políticas a tomar) têm sido intensos e, em certo sentido, abertos aos holofotes do resto mundo. Também aqui poderíamos continuar ser todos americanos e não ter receio do debate e da definição de alternativas políticas de governação.</div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"><span style="font-size:78%;">Nota: O título deste post é obviamente provocatório.</span></div>Renato Carmohttp://www.blogger.com/profile/17270814504728093030noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-7917205857057426406.post-61959542060417881352008-09-18T00:17:00.000+01:002008-09-18T12:14:25.298+01:00O fim do American Dream (ou o regresso às classes sociais)<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjve6N8kgU33Tj4aCI9vU1Lur9Kzf43V-jWCvD2WjsRqnWeJWpP-YAW0lQFJ6zp2meEQlt__A7esVmliLODCzk9MmGMMcmXbh9hj58WIwh9pRF8E78Cn2UdzLcSDYPWc5AMFQD-Jp_zlDU/s1600-h/changesrealfamily4779_thumb.gif"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5247012205314357826" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjve6N8kgU33Tj4aCI9vU1Lur9Kzf43V-jWCvD2WjsRqnWeJWpP-YAW0lQFJ6zp2meEQlt__A7esVmliLODCzk9MmGMMcmXbh9hj58WIwh9pRF8E78Cn2UdzLcSDYPWc5AMFQD-Jp_zlDU/s400/changesrealfamily4779_thumb.gif" border="0" /></a><br /><br /><div align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhOR1h3w3oB5kewxZq2hZ7hCS9KVX8hSfrZxv1Moh2Li02YR7mXGrnevVpyGcXia-Oyy74lNt7Nq_BOBDaUZIhJJKqJgddqoAcWH8USW_iZ00jd7pazd2DsWYftu4z-uxk8SV-Hw2XD-As/s1600-h/changesrealfamily7905_thumb.gif"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5247012117173112850" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhOR1h3w3oB5kewxZq2hZ7hCS9KVX8hSfrZxv1Moh2Li02YR7mXGrnevVpyGcXia-Oyy74lNt7Nq_BOBDaUZIhJJKqJgddqoAcWH8USW_iZ00jd7pazd2DsWYftu4z-uxk8SV-Hw2XD-As/s400/changesrealfamily7905_thumb.gif" border="0" /></a>Estes dois gráficos que comparam a variação do rendimento real das famílias americanas ao longo de dois períodos distintos são verdadeiramente impressionantes. Assim, entre 1947 até ao final da década de 70, o rendimento aumenta de forma quase equitativa em todos os estratos (quintis) de rendimento, com especial incidência para os 20% mais pobres que vêem o seu rendimento crescer em 116%. Note-se que durante estes anos é no escalão dos 5% mais ricos que se verifica o menor aumento (proporcional) de rendimento real.<br />No período seguinte dá-se uma inversão radical, os mais pobres conhecem uma pequena redução do rendimento real, enquanto no caso dos 5% mais favorecidos o aumento é da ordem dos 81%. Estes gráficos dizem muito sobre a evolução da sociedade americana no que concerne não só ao aumento das desigualdades sociais, mas também aos níveis de mobilidade social ascendente que tenderão a ser cada vez mais reduzidos.<br /></div><div align="justify"><span style="font-size:85%;">Nota: gráficos retirados </span><a href="http://www.demos.org/inequality/index.cfm"><span style="font-size:85%;">daqui.</span></a> </div>Renato Carmohttp://www.blogger.com/profile/17270814504728093030noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7917205857057426406.post-20440086157526224402008-09-17T07:54:00.006+01:002008-09-17T08:28:45.384+01:00Nota de rodapé (ou de fim de página)<a href="http://www.spacetoday.org/images/Rockets/FutureSpaceVehicles/LaserPropulsion.jpg"><img style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; WIDTH: 200px; CURSOR: hand" alt="" src="http://www.spacetoday.org/images/Rockets/FutureSpaceVehicles/LaserPropulsion.jpg" border="0" /></a><br /><div align="justify">Esta <a href="http://pensamentodomeiodia.blogspot.com/search/label/Policentrismo">pequena série de posts</a> sobre capital social e policentrismo não representa um simples exercício teórico. Na verdade, esta reflexão (meramente exploratória) retoma a questão central sobre a qual tenho discorrido neste blogue: o problema das desigualdades sociais não se resolve somente com mais e melhores políticas sociais (desejáveis), é necessário, simultaneamente, uma alteração profunda na política económica e administrativa do país. As conclusões <a href="http://pensamentodomeiodia.blogspot.com/2008/07/questo-econmica.html">do estudo coordenado pelo sociólogo Alfredo Bruto da Costa</a> são bem demonstrativas a este respeito. Essa mudança profunda não implica, quanto a mim, uma revolução, nem sequer uma ruptura radical do sistema económico, mas implica a definição estratégica de um modelo. Como também já referi, a reformulação do papel e da acção do Estado é particularmente importante. Isso não passa por simplesmente reduzir o peso Estado nas suas várias áreas de actuação, mas passa necessariamente por reformular parte das suas instituições e agências. A ideia que lancei sobre um <a href="http://pensamentodomeiodia.blogspot.com/2008/06/os-princpios-de-um-estado-propulsor.html">Estado propulsor</a>, capaz de imergir no tecido social e económico de maneira a produzir sinergias e novas dinâmicas locais, vai precisamente nesse sentido. É nesta linha que enquadro os conceitos operativos de capital social e policentrismo, tendo por base aquilo que designei como princípio da cooperação. Ou seja, um princípio orientador que incida na maximização dos recursos disponíveis (económicos, sociais, humanos…), tendo como objectivo central o aumento significativo da equidade social e dos níveis de autonomia das populações e das comunidades.</div>Renato Carmohttp://www.blogger.com/profile/17270814504728093030noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7917205857057426406.post-90563795868352522382008-09-16T14:05:00.005+01:002008-09-16T14:21:47.930+01:00Quem anda à chuva...<em><span style="color:#000066;">«The decadent international but individualistic capitalism in the hands of which we found ourselves after the war is not a sucess. It is not intelligent. It is not beautiful. It is not just. It is not virtuous. And it does not deliver the goods».</span></em> <br />John Maynard Keynes<br /><br />Estamos todos a ver no que dá o grande capitalismo financeiro. Keynes diria "bem feito".<br />E vale a pena sublinhar a última frase: <em>it does not deliver the goods</em>. Nos últimos 25 anos, com a liberalização dos mercados de capitais, foi-nos prometido estabilidade, crescimento e prosperidade. Um quarto de século depois, é preciso perguntar onde estão eles - já para não falar no aumento das desigualdades. E com a estagnação prolongada que se adivinha, podemos continuar à procura.<br /><br />Exige-se coragem aos políticos europeus e mundiais.Hugo Mendeshttp://www.blogger.com/profile/05566359753338952544noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7917205857057426406.post-8394943365271531322008-09-15T00:31:00.001+01:002008-09-15T00:34:43.790+01:00Capital Social e Policentrismo IV<a href="http://www.marine.ie/NR/rdonlyres/5F9F7829-0F8C-49E2-B900-556BF0D3261B/0/marine_devel_symbol_rgb.jpg"><img style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; WIDTH: 200px; CURSOR: hand" alt="" src="http://www.marine.ie/NR/rdonlyres/5F9F7829-0F8C-49E2-B900-556BF0D3261B/0/marine_devel_symbol_rgb.jpg" border="0" /></a><br /><br /><br /><div><br /><br /><br /><div align="justify">A diminuição das desigualdades (referida no final <a href="http://pensamentodomeiodia.blogspot.com/2008/09/capital-social-e-policentrismo-iii.html">deste post</a>) significa, até certo ponto, dotar as populações de capacidade (segundo a perspectiva de <a href="http://www.amazon.co.uk/gp/reader/0192893300/ref=sib_dp_ptu/026-3968744-4568435#reader-link">Amartya Sen</a>) para se tornarem autónomas no que diz respeito à liberdade para viver o tipo de vida que têm razões para valorizar. Entendo que o princípio da cooperação só é plenamente realizado se potenciar essa capacidade de <em>autonomia</em> face a dependências externas, sejam elas de carácter subsidiário ou de dominação económica e/ou administrativa (desproporcionalmente centralizada). No entanto, a autonomia não pode ser simplesmente desligada de outros sectores da sociedade, como o Estado. Na verdade, dificilmente a autonomia poderá ser gerada contemplando somente o nível e a acção dos agentes locais (indivíduos, grupos, comunidades, etc.).<br />Por vezes, algumas versões de capital social, tendem a separar a densidade cívica e associativa do papel e da intervenção do próprio Estado, como se este representasse por natureza um entrave à sua autonomia e dinamização. Partilho de uma visão diferente que considera o Estado como um agente cada vez mais activo na maximização das potencialidades locais, de modo a que estas se reflictam no incremento da equidade social e dos níveis de autonomia.</div><div align="justify">Penso que a partir deste consenso mínimo é possível olhar para determinados sectores da sociedade portuguesa integrando o princípio da cooperação como um elemento essencial para se avaliar e se questionar o sentido e as consequências de certas políticas públicas.</div></div>Renato Carmohttp://www.blogger.com/profile/17270814504728093030noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7917205857057426406.post-80630441150006054562008-09-12T10:14:00.002+01:002008-09-12T10:35:26.268+01:00Capital Social e Policentrismo III<a href="http://www.coamo.com.br/jornalcoamo/nov06/content/8.2.jpg"><img style="FLOAT: right; MARGIN: 0px 0px 10px 10px; WIDTH: 320px; CURSOR: hand" alt="" src="http://www.coamo.com.br/jornalcoamo/nov06/content/8.2.jpg" border="0" /></a><br /><div align="justify">Tendo por base a <a href="http://pensamentodomeiodia.blogspot.com/2008/09/capital-social-e-policentrismo-esboo-de.html">breve descrição </a>dos <a href="http://pensamentodomeiodia.blogspot.com/2008/09/apital-social-e-policentrismo-ii.html">pressupostos </a>teóricos de cada um destes conceitos, não é despropositado afirmar que ambos incorporam o <em>princípio da cooperação</em> como um factor imprescindível para se poder alcançar valor acrescentado, seja ele em forma de valor económico, cultural e/ou societal, etc.<br />Do meu ponto de vista, este princípio é composto por três dimensões interdependentes partilhadas tanto pelos pressupostos que orientam o policentrismo, como pelos fundamentos do conceito de capital social. Primeiro, parece-me evidente que emerge deste princípio uma lógica de eficiência que não deve ser descurada, mas que também não convém ser exacerbada. Ambos os conceitos evidenciam a <em>maximização</em> dos recursos disponíveis para o alcance de valor acrescentado que ultrapasse largamente a mera soma das partes. A potenciação desses recursos inscreve-se, parcialmente, na dinâmica das redes sociais e na intensidade relacional que se estabelece entre indivíduos ou territórios.</div><br /><div align="justify">De facto, tanto o policentrismo como o capital social participam desta perspectiva de maximização de recursos. Todavia, quer num quer noutro conceito, a eficiência só se transforma em efectiva mais-valia se esta contribuir decisivamente para o aumento dos níveis de <em>equidade</em> social, económica, política, etc. (que representa a segunda dimensão). No caso do capital social, grande parte da literatura enfatiza a interdependência entre o incremento das redes sociais - mais os níveis de confiança (herdados e/ou criados) - e o aprofundamento da participação cívica que poderá expressar-se, entre outros factores, no crescimento do volume de projectos e de iniciativas de desenvolvimento no seio das comunidades. </div><div align="justify">O mesmo sucede com a concepção policêntrica que encara o ordenamento territorial como um sistema reticular entre povoações urbanas organizado por intermédio de relações de partilha e de complementaridade. Ou seja, segundo o princípio da cooperação, a lógica de maximização dos recursos, que emana dos conceitos em causa, tornar-se-á relativamente ineficaz se da sua aplicação não resultar uma diminuição estrutural das desigualdades sociais e territoriais.</div><div align="justify"> </div><div align="justify"><span style="font-size:78%;">Continua...</span></div>Renato Carmohttp://www.blogger.com/profile/17270814504728093030noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7917205857057426406.post-58622192892402535582008-09-11T12:14:00.009+01:002008-09-11T12:33:38.876+01:00Capital social e policentrismo II<div align="justify">O conceito de capital social tem um significado muito diferente relativamente ao de policentrismo (ver post em baixo), mas, em certa medida, participa de alguns dos pressupostos enunciados, designadamente, a importância atribuída às redes sociais. Segundo P. Bourdieu (<a href="http://www.persee.fr/web/revues/home/prescript/article/arss_0335-5322_1980_num_31_1_2069?_Prescripts_Search_isPortletOuvrage=false">1980</a>) e J. Coleman (<a href="http://books.google.com.br/books?id=a4Dl8tiX4b8C&dq=James+coleman+%22Foundations+of+Social+Theory%22&pg=PP1&ots=qA-qRZITFk&sig=WiXMUqOUrIcyfEBsBo4Qcl5BFkg&hl=pt-BR&sa=X&oi=book_result&resnum=1&ct=result">1990</a>), pode entender-se por capital social a confluência e partilha (por parte de indivíduos ou de grupos sociais) de recursos (sociais, económicos, culturais, etc.) considerados importantes que resultem da inter-conectividade das relações e redes sociais. Bourdieu (1980) refere especificamente a posse de uma rede durável de relações de inter-conhecimento e inter-reconhecimento. Neste sentido, o capital social tem por base a persistência temporal das redes que se dinamizam a partir das relações de reciprocidade assentes na comunhão de determinadas normas e valores. Isto é, os indivíduos (ou os grupos sociais) interagem segundo a expectativa de que em alguma altura poderão tomar partido (pessoal, social, económico…) da pertença a essa rede.<br />Para além das redes sociais, o conceito de capital social incorpora uma outra componente determinante: a confiança. Sem esta não é possível implementar relações de credibilidade e de fiabilidade entre os diversos agentes sociais. Ou seja, sem o pressuposto da confiança recíproca, entre diferentes actores sociais, dificilmente se poderão constituir redes sociais suficientemente engajadas e duráveis.<br />Por intermédio da abordagem de R. Putman (<a href="http://www.bowlingalone.com/">2000</a>), o conceito de capital social ultrapassou os pressupostos definidos inicialmente. Para além de outras dimensões, este passou a ser utilizado para caracterizar o nível de participação e de empenhamento cívico não só dos indivíduos ou de comunidades restritas, como tende a abarcar o âmbito das regiões e, até, dos países. Já são amplamente conhecidas e divulgadas as duas modalidades distintas de capital social que propôs para o estudo dos níveis de capital social: <em>bonding</em> e <em>bridging</em>. A primeira representa um tipo de capital exclusivo que identifica uma dinâmica centrífuga (de dentro para fora), no sentido do reforço das identidades sociais e da manutenção da homogeneidade entre pessoas que vivem situações similares (familiares, de amizade, de vizinhança...); a segunda, bridging, contempla um carácter mais inclusivo, de natureza centrípeta (de fora para dentro), no sentido das ligações sociais conseguirem mobilizar e atrair indivíduos e grupos de diferentes meios e contextos sociais com as quais normalmente não se estabelecem ligações fortes e contínuas.</div><div align="justify"></div><div align="justify"><span style="font-size:78%;">Continua...</span></div>Renato Carmohttp://www.blogger.com/profile/17270814504728093030noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7917205857057426406.post-71666302800960788462008-09-10T18:52:00.008+01:002008-09-10T21:01:33.219+01:00Capital Social e Policentrismo: esboço de uma reflexão (em vários capítulos)<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhKCCsEVX7oUPi4M6aGxmcFzu_9nnew5gkjOZYBQYKEH_of56muoHHMhmLkClgd266BrViKBdcglOUIxcdHLVLKZzyW632Kh5a52WdfmVXv9QrXY6FWhdRFC2wa-blagawvu9xolWSGrz8/s1600-h/poli.png"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5244482366651492626" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhKCCsEVX7oUPi4M6aGxmcFzu_9nnew5gkjOZYBQYKEH_of56muoHHMhmLkClgd266BrViKBdcglOUIxcdHLVLKZzyW632Kh5a52WdfmVXv9QrXY6FWhdRFC2wa-blagawvu9xolWSGrz8/s320/poli.png" border="0" /></a> <div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify">Existe uma extensa produção científica em torno destes dois conceitos (sobretudo, no de capital social), mas não tem sido muito habitual reflectir e debater sobre o modo como estes se poderão articular do ponto de vista analítico e também operativo, nomeadamente, ao nível da definição e enquadramento das políticas públicas. Independentemente da tradição académica inerente a cada um, entendo que existe um princípio orientador que é comum a ambos: <em>o princípio da cooperação</em>. Tanto as análises sobre o policentrismo como as que se debruçam sobre as várias modalidades de capital social consideram, de uma maneira geral, que a cooperação entre diversos agentes (sejam eles indivíduos, grupos ou comunidades) poderá gerar mais-valias que se repercutirão nos níveis de desenvolvimento socioeconómico das populações e dos seus territórios. Por outro lado, ambos salientam a importância das ligações e das redes sociais como elementos centrais na produção de confluência de interesses e de articulação de objectivos comuns.</div><div align="justify">Analisarei neste post os pressupostos básicos do policentrismo. As versões mais correntes baseiam-se na ideia de organização e de ordenamento dos territórios tendo por base a intensificação das relações entre as cidades, que, por sua vez, representam uma espécie de nódulos aglutinadores a partir dos quais se constituirá uma alargada integração reticular que transcende o perímetro territorial ocupado por cada área urbana. De forma muito sintética é possível afirmar que o objectivo principal desta perspectiva é o de incrementar nas cidades (sobretudo as médias e as pequenas) uma plataforma de conexão interurbana que permita não só aprofundar e potenciar os índices de desenvolvimento socioeconómico, como propiciar as condições necessárias para a sua internacionalização nos mercados globais.</div><div align="justify">De um certo ponto de vista, trata-se da proposta de um modelo de urbanização alternativo ao da concentração metropolitana em torno das grandes urbes. Na verdade, o seu pressuposto adequa-se, em certa medida, aos sistemas urbanos em forma de arquipélago compostos por cidades médias, e/ou pequenos focos de urbanização, cuja configuração predomina em muitas regiões europeias, como é o exemplo do território português.<br /><br /><span style="font-size:78%;">Continua...</span> </div>Renato Carmohttp://www.blogger.com/profile/17270814504728093030noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7917205857057426406.post-8472587488234160562008-09-09T12:39:00.010+01:002008-09-09T20:06:18.006+01:00O grande arco do conservadorismo, da esquerda à direitaLutar contra as desigualdades num país como Portugal é difícil. Para além das dinâmicas de equilíbrio negativo que as sustentam de modo quase semi-automático, grande parte das elites económicas, políticas, profissionais, jornalísticas, etc., só se lembra delas quando se trata de acusar um qualquer governo de incompetência. Nos restantes 300 e tal dias do ano, as desigualdades não trazem grande mal ao mundo. Pelo contrário, permitem ter acesso a produtos e serviços a preços baixos.<br /><br />Mas é ainda mais difícil lutar contra elas quando agentes altamente qualificados que deviam ter a luta contra as desigualdades no topo, senão da sua agenda, pelo menos da sua preocupação ou sensibilidade, desvalorizam mudanças em processos absolutamente essenciais no mecanismo de reprodução das (ou luta contra as) desigualdades.<br /><br />Falo, neste caso específico, dos resultados escolares. Para estes agentes, quando os resultados melhoram - e os dados mais recentes mostram que <a href="http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1342101">melhoraram</a> -, são "artificiais", ou não merecem "credibilidade", ou são para "inglês ver", ou são "propaganda", <a href="http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1342101">ou...ou....</a><br /><br />Estes são, recordo ingenuamente, os mesmos resultados escolares que, quando generalizadamente negativos, punem as crianças os jovens, e definem o seu futuro de forma precoce. São os mesmos resultados que, quando generalizadamente negativos, reproduzem ou reforçam a pobreza e as desigualdades, privando as crianças e os jovens de um futuro diferente do dos seus pais. São os mesmos resultados escolares que ajudam a que Portugal exiba - no dia da publicação do enésimo relatório internacional sobre educação que sublinha este problema - um défice quase escandaloso de qualificações nas comparações internacionais.<br /><br />Mas, suponho, com isto, não parece haver grande problema. O problema mesmo é quando os resultados melhoram. Ora, não, não, isso é que não pode ser! Que isso permita às crianças e jovens outros horizontes escolares e profissionais - e, convém lembrar, ao país - é, parece, absolutamente irrelevante.<br /><br />Apetece-me dizer que, entre acabar com a retenção e o insucesso escolar e acabar com a OCDE, imagino que muitos escolhessem a segunda hipótese. Ficávamos a saber um bocadinho menos do mundo, mas seguramente mais reconfortados na luta pela "exigência" da educação e contra o "facilitismo" e a "propaganda".<br /><br />A luta contra as desigualdades é também uma luta contra o conservadorismo - de esquerda e de direita. Para quem sofre as suas consequências, que ele seja de esquerda ou de direita é, afinal de contas, irrelevante.Hugo Mendeshttp://www.blogger.com/profile/05566359753338952544noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7917205857057426406.post-59752878078258734372008-09-09T11:54:00.010+01:002008-09-09T18:58:46.690+01:00São 12%, não 60%Foram publicados hoje os dados do <a href="http://www.oecd.org/document/9/0,3343,en_2649_39263238_41266761_1_1_1_1,00.html">Education at the Glance 2008</a>, relatório anual da OCDE sobre os sistemas educativos. Há dados interessantes, embora não muito actuais (a maioria é de 2005 ou 2006; este é o <em>delay</em> habitual nestes trabalhos internacionais), que pode ser útil explorar neste blogue nos próximos dias. De qualquer forma, não posso deixar de achar interessante que a notícia que está em todos os sites de órgãos de comunicação - e que, suponho, reproduz um take da Lusa da 10 horas da manhã - tenha um erro grosseiro.<br />Assim, escreve-se:<br /><br /><em><span style="color:#000066;">Educação/OCDE</span></em><br /><em><span style="color:#000066;">Portugal é segundo país de 27 com mais empregados sem qualquer qualificação<br />2008-09-09, 10h00<br />Lisboa, 09 Set (Lusa) - Cerca de 60 por cento da mão-de-obra em Portugal não tem qualquer formação específica, sendo apenas ultrapassada, entre 27 países ocidentais, pela Turquia, onde aquele indicador se situa nos 64 por cento, revela um relatório internacional.</span></em><br /><br /><br />Este indicador é muito importante, e é tratado logo no primeiro capítulo do relatório (indicador A1 (pp.28-50)). Mas o autor desta peça faz uma confusão enorme. Atente-se no quadro que está aqui em baixo, a partir qual a notícia foi, imagino, feita.<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEibuCxyXl5VQxk-h-V8Vhg0b8IodEIob5yfBFxyD9t0Dh3q32FNgwNZ0vSD0GoBf1BkV5oJyfJmC6ZLqNk-zI2hd6guvMnam2e3zdjxSbb1sZlCMoeFzen4NyVIGSojsIun6WI2_rSnJ10/s1600-h/sem+nome1.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5243975150917537346" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEibuCxyXl5VQxk-h-V8Vhg0b8IodEIob5yfBFxyD9t0Dh3q32FNgwNZ0vSD0GoBf1BkV5oJyfJmC6ZLqNk-zI2hd6guvMnam2e3zdjxSbb1sZlCMoeFzen4NyVIGSojsIun6WI2_rSnJ10/s320/sem+nome1.jpg" border="0" /></a><br /><br />A OCDE divide as ocupações em 9 categorias, de acordo com a <a href="http://www.ilo.org/public/english/bureau/stat/isco/index.htm">ISCO</a> - <em>International Standard Classification of Ocupations</em>. Da responsabilidade da <a href="http://www.ilo.org/global/lang--en/index.htm">Organização Internacional do Trabalho</a>, a ISCO é a grelha internacionalmente mais usada para organizar as ocupações em função das suas tarefas e funções. Como se pode ver, a ISCO tem 9 categorias:<br />Categoria 1: <em>Legislators; senior officials; managers</em><br />Categoria 2: <em>Professionals</em><br />Categoria 3: <em>Technicians; associate professionals</em><br />Categoria 4: <em>Clerks</em><br />Categoria 5: <em>Service workers</em><br />Categoria 6: <em>Skilled agricultural and fishery workers</em><br />Categoria 7: <em>Craft and related trades workers</em><br />Categoria 8: <em>Plant and machine operators; assemblers</em><br />Categoria 9: <em>Elementary occupations</em><br /><br />Para facilitar a análise neste reatório, a OCDE juntou as categoria 1, 2 e 3 em ocupações qualificadas (<em>skilled</em>); as categoria 4, 5, 6, 7 e 8 em ocupações semi-qualificadas (<em>semi-skilled</em>); e deixou a categoria 9 sozinha, relativa às ocupações não-qualificadas (<em>unskilled</em>) <span style="font-size:85%;">(como explica na página 34)</span>.<br /><br />Podemos discordar deste processo de agregaçao de categorias; mas não podemos chamar nomes diferentes às coisas. Quando a notícia em causa diz que <em>«cerca de 60 por cento da mão-de-obra em Portugal não tem qualquer formação específica»</em>, comete não um, mas dois erros. Primeiro, o indicador refere-se aos <em>empregos</em>, e não à mão-de-obra. (esta diferença é importante, porque uma das análises do relatório incide precisamente sobre a distinção entre o tipo de empregos existentes na estrutura económica e as qualificações da mão-de-obra. Por exemplo, conclui-se que em todos os países existem mais empregos - definidos como - qualificados do que mão-de-obra - definida como - qualificada. Este é um aspecto que podemos analisar num outro <em>post</em>.).<br /><br />Segundo, basta olhar para a tabela - para a última coluna da direita (<em>25-to-64-year-old population</em>) - para ver que, para Portugal, o valor de 60 está na célula relativa às <em>semi-skilled occupations</em> (que agrega<em>,</em> relembro, as categorias 4, 5, 6, 7 e 8 da ISCO). Reporta-se a empregos na indústria, no comércio, nos serviços, na agricultura e na pesca que exigem competências (e/ou qualificações) específicas. Não se trata de forma alguma de <em>empregos</em> - ou, como diz a notícia, repito, erradamente - de «<em>empregados</em> sem qualquer qualificação». Se queremos saber quantas pessoas estão em empregos "desqualificados", vemos então que são 12% (para o ano de 2006; 13% em 1998).<br />Os 60% dizem respeito, antes, a ocupações <strong>semi-qualificadas</strong>, nos mais diversos sectores e actividades.Hugo Mendeshttp://www.blogger.com/profile/05566359753338952544noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7917205857057426406.post-17951966137626874512008-09-05T15:20:00.004+01:002008-09-05T15:28:27.595+01:00Desigualdades no Mdiplo<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj11cAzxpW4E0bOCgPg3zxkBYK1Q6_shLoPlIsTcn8edWcTCJn3gSNQlGd3OPBJtkW7gMS1mCBtNZNiv8anxItUAv5NqHoTND19FGCUUPzk24Ts8l62AvUfY5ISr4-7zSvHF64CiJZuYoY/s1600-h/MD+set.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5242544025848182626" style="FLOAT: right; MARGIN: 0px 0px 10px 10px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj11cAzxpW4E0bOCgPg3zxkBYK1Q6_shLoPlIsTcn8edWcTCJn3gSNQlGd3OPBJtkW7gMS1mCBtNZNiv8anxItUAv5NqHoTND19FGCUUPzk24Ts8l62AvUfY5ISr4-7zSvHF64CiJZuYoY/s400/MD+set.jpg" border="0" /></a><br /><div align="justify">O jornal <a href="http://pt.mondediplo.com/spip.php?article220">Le Monde Diplomatique (edição portuguesa) </a>vai publicar ao longo dos próximos meses uma série de artigos dedicados à temática das desigualdades sociais. Este número de Setembro integra um artigo de autoria do economista Carlos Farinha Rodrigues intitulado “Desigualdade económica em Portugal”, que complementa e actualiza a análise efectuada no seu <a href="http://pensamentodomeiodia.blogspot.com/2008/06/polticas-com-cho.html">livro</a>. O texto não só divulga dados recentes sobre a distribuição do rendimento, como apresenta algumas séries temporais sobre a evolução das desigualdades desde 1994 até 2005. A partir da análise verificamos que a distribuição do rendimento não se alterou significativamente ao longo desta década. Os níveis de concentração continuam a ser elevados, nomeadamente, no que concerne ao rendimento monetário: o índice de Gini era de 0,358 em 1994, aumentando para 0,373 em 2005. Contudo, ao se contemplar o rendimento não monetário, observa-se uma certa atenuação que se expressa na estabilização dos valores do índice. Na verdade, é precisamente na distribuição do rendimento monetário que se verifica os maiores níveis de assimetria entre os mais ricos e os mais desfavorecidos. Outro dado interessante tem a ver com a contribuição das diferentes fontes de rendimento para a desigualdade: para além dos salários (65,4%), as pensões representam a segunda fonte (14,9%) a contribuir para a desigualdade, tendo aumentado para o dobro a sua proporção (em 1994 cifrava-se em 6,9%). Ou seja, as pensões reproduzem, em grande medida (e provavelmente até acentuam), as discrepâncias que se encontram na distribuição salarial. Outros dados são apresentados neste importante artigo que vale toda a pena ler.</div>Renato Carmohttp://www.blogger.com/profile/17270814504728093030noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7917205857057426406.post-89972922234528156182008-09-02T13:19:00.006+01:002008-09-02T17:49:48.722+01:00«It's a great blue-collar, hourly-paid, union job up there»A decisão de John McCain de nomear Sara Pallin como vice da sua candidatura espantou meio mundo. Por muitas voltas que dê ao assunto, não consigo encontrar melhor adjectivo do que aquele usado por Michael Tomasky: trata-se de uma <em><a href="http://www.guardian.co.uk/commentisfree/michaeltomasky/2008/aug/30/uselections2008.johnmccain">«insane choice»</a></em>.<br /><br />A quantidade de problemas causados por Pallin a McCain pode ainda ir no início. Não vale a pena falar muito dos rasgados elogios a Hillary Clinton que deixaram McCain embaraçado parante as câmaras; nem do facto de a sua filha adolescente e solteira estar grávida de 5 meses (a gravidez adolescente é, afinal de contas, uma espécie de pecado capital para os conservadores, e um indicador inequívoco da negligência dos pais na educação das suas filhas). Polémicas <a href="http://www.guardian.co.uk/world/2008/sep/02/uselections2008.republicans20085">novas</a> parecem surgir todos os dias a um ritmo espectacular.<br /><br />Do ponto de vista sócio-económico, é mais interessante o que Palin disse em resposta a uma pergunta sobre o marido, numa <a href="http://www.businessweek.com/bwdaily/dnflash/content/aug2008/db20080829_272692.htm">entrevista</a> realizada uns dias antes de ser seleccionada para ser a vice de McCain:<br /><br /><em>«<a href="http://www.businessweek.com/bwdaily/dnflash/content/aug2008/db20080829_272692_page_2.htm">Q: Your husband works up in the North Slope, correct?</a></em><br /><em></em><br /><em><a href="http://www.businessweek.com/bwdaily/dnflash/content/aug2008/db20080829_272692_page_2.htm">A: He does. He works for BP as an oil production operator up in the oil fields. <strong>It's a great blue-collar, hourly-paid, union job up there</strong>. It's one of those jobs that Alaskans really like to have because <strong>it provides so well for a family</strong>, and Alaskans are very blessed to have the opportunities to work in the oil patch. </a>»</em><br /><br />Alguém tem de informar Sarah Pallin que o partido a que pertence não tem feito outra coisa nos últimos 30 anos senão atacar e destruir - em aliança com os interesses do patronato norte-americano - milhões de "blue-collar, hourly-paid, union jobs". De tal forma que em 2007 <a href="http://www.bls.gov/news.release/union2.nr0.htm"><em>«union members accounted for 12.1 percent of employed wage and salary workers»</em></a>.<br />Fazer o elogio do emprego sindicalizado, bem pago, com descontos para a segurança social e seguro de saúde, não tem grande coisa a ver com o programa económico do Partido Republicano.<br /><br />Talvez não seja desconhecimento. Talvez seja apenas hipocrisia.Hugo Mendeshttp://www.blogger.com/profile/05566359753338952544noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7917205857057426406.post-69228890167572788312008-09-02T09:09:00.004+01:002008-09-02T10:08:23.676+01:00Cidades com muitos nomes<a href="http://vitormsm.no.sapo.pt/myview2.jpg"><img style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://vitormsm.no.sapo.pt/myview2.jpg" border="0" /></a><br /><div></div><div align="justify"><a href="http://www.tintadachina.pt/book.php?code=c810046d23c02f2c86b4e8e196d67474">Cidades sem Nome</a>, o título de último livro de <a href="http://5dias.net/">Fernanda Câncio</a>, é mais do que uma antologia de crónicas sobre a condição suburbana. A escrita viva e incisiva não só retrata com vigor os múltiplos perfis dessa condição, como fornece os elementos essenciais de como ela é construída no dia-a-dia. A autora descreve-nos quatro territórios distintos - quer na sua geografia e, sobretudo, quer na sua composição sociológica (Brandoa, Bela Vista, Belas Clube de Campo e Vila Franca de Xira). Três ideias fortes e contraditórias me assaltaram (a consciência?) enquanto lia estes textos. A primeira ideia com que se fica é que a condição suburbana - supostamente homogénea –não é mais do que um mito moderno como tantos outros. Quanto muito poder-se-ia falar de ‘condições’ diferenciadas. A segunda ideia (sensação!), que deriva da anterior, é a de espaços cheios de vida, ou melhor, de vidas, que contam a sua versão do bairro por intermédio das suas experiências, vivências, raciocínios e expectativas. A terceira ideia, é a de um imenso desespero que, em certa medida, é também um imenso vazio. Parece contraditório, mas foi mesmo assim que o senti: como é que estes espaços tão cheios de vida podem, ao mesmo tempo, ser tão vazios.<br />O desespero resulta de uma quase permanente sensação de irresolução - do caos urbanístico, da exclusão social, do abandono escolar, da ausência de cidadania, da incapacidade das instituições públicas, etc. – que se transmite a cada testemunho individual ou em cada pequena história colectiva que é contada. Esse desespero de não haver saída é bem exemplificado neste extracto sobre o bairro da Bela Vista, situado na cidade de Setúbal:<br />«Se há verbo conjugado, nas suas múltiplas declinações, aqui na Bela Vista, é este, desistir. A desistência absoluta de gestão do bairro por parte das entidades proprietárias – primeiro o governo, através do IGAPHE, depois a Câmara de Setúbal. A desistência chega a este ponto de ninguém saber quem vive nestas casas que, construídas com o erário público para funcionar como instrumento de justiça social, se transformaram em mais um gerador de injustiça» (p.61-62).<br />Cheguei ao fim do livro, que curiosamente correspondeu ao fim das minhas férias, com o pulsar de uma quarta ideia: é preciso atribuir um nome (muitos nomes) a estas e outras cidades, e para tal é preciso estudá-las a sério. Não com o mero intuito de produzir mais um relatório (que sempre fica na gaveta) ou um livro (ou muito artigos científicos), mas com um sentido claro na intervenção e no contributo que a ciências sociais poderão dar para uma concreta transformação social que se reflicta na vida daqueles espaços e das pessoas.</div><div align="justify"></div><div align="justify"><span style="font-size:78%;">Nb. Imagem roubada <a href="http://vistadosuburbio.blogspot.com/">daqui</a>.</span></div>Renato Carmohttp://www.blogger.com/profile/17270814504728093030noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7917205857057426406.post-56442578542413992342008-07-24T16:13:00.001+01:002008-07-24T16:14:29.862+01:00Estado da arte<div align="justify">Este blogue vai entrar numa fase mais intermitente até final de Agosto. É isso mesmo! Vamos pôr os pensamentos de molho e em Setembro voltaremos com argumentos redobrados e reforçados. Não se esqueçam de regressar ao meio do dia (de preferência). Boas férias!</div>Renato Carmohttp://www.blogger.com/profile/17270814504728093030noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7917205857057426406.post-48721337914724341832008-07-24T15:54:00.003+01:002008-07-24T16:05:25.627+01:00A economia mundial espera o seu novo Keynes<div align="justify">É assim que termina um artigo de <a href="http://ksghome.harvard.edu/~drodrik/">Dani Rodrik</a>, publicado na edição de hoje do <a href="http://diarioeconomico.com/">Diário Económico (</a>vale a pena ler). O economista discorre sobre a morte do consenso sobre a globalização. Deixo aqui este extracto: <strong><span style="color:#3333ff;">«Hoje em dia, a pergunta deixou de ser "é a favor ou contra a globalização?". A pergunta é "quais devem ser as regras da globalização?". Os campeões da globalização já não têm opositores jovens que arremessam pedras, mas sim outros intelectuais que arremessam argumentos».<br /></span></strong>Ora nem mais!</div>Renato Carmohttp://www.blogger.com/profile/17270814504728093030noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7917205857057426406.post-43263703592951723262008-07-21T00:12:00.009+01:002008-07-21T02:48:09.276+01:00Endividamento: irresponsabilidade familiar ou o impacto da desigualdade?<em><strong><a href="http://dn.sapo.pt/2008/07/20/sociedade/classe_media_esta_a_pedir_comida_ema.html">"Não estamos a falar de idosos, dos típicos desempregados, mas de pessoas com menos de 40 ou 45 anos que se calhar não deixam de pagar a netcabo nem desmarcam as férias na agência de viagens mas passam fome".</a></strong></em><br /><em>Manuel Lemos, presidente das União das Misericórdias Portuguesas</em><br /><br />É este comportamento irracional? Muitos pensarão que sim. Infelizmente, a questão do endividamento das famílias quase nunca é analisada a partir da óptica das desigualdades. Quando o fazemos, o <em>puzzle</em> fica muito menos complicado. A explicação para as pessoas cortarem na comida porque não querem cortar na internet, nas férias, etc., é porque estes últimos são <strong><a href="http://en.wikipedia.org/wiki/Positional_goods">bens posicionais</a></strong>: o que conta é menos o que as pessoas possuem em <em>absoluto </em>e mais o que elas possuem por <em>comparação </em>ao resto da sociedade, em particular os grupos com os quais elas se comparam. Hoje, para muitos nas classes médias, é quase inaceitável não ter acesso à <em>internet</em> ou não fazer férias; seria vergonhoso não usufruir destes bens, porque toda a gente que "interessa" deles usufrui.<br /><br />O problema das sociedades altamente desiguais (<span style="font-size:85%;">veja-se o padrão do endividamento das famílias no capitalismo anglo-saxónico, bem mais inigualitário do que o europeu [gráfico retirado <a href="http://www.alternatives-economiques.fr/taux-de-croissance-annuels-moyens-de-l-activite-et-endettement-des-menages-entre-1998-et-2007--en--_fr_art_720_37429.html">daqui</a>])</span>, e onde as classes altas, com rendimentos elevadíssimos por relação à sociedade em que vivem, gostam de ostentar o seu luxo, é este: <strong>quanto mais alto elas fixam a norma, mais dinheiro as classes médias vão ter que gastar para não perder o seu lugar na hierarquia simbólica</strong>. O resultado é simples:<br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj8ptcsPQEcmbwLBDgXMtoQi2AMCvyn7KlXzs7h7YfENo4EVHwxqeRMQ2GfYqTRVwytiIZKzDkCGbqilwq_33biP8sQ7fsdlXxINwEnSbFMMIOdGwUnXKHg6vZcBdwTgqeyBKG6MG54n0Y/s1600-h/A270063A.png"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5225244737535478690" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj8ptcsPQEcmbwLBDgXMtoQi2AMCvyn7KlXzs7h7YfENo4EVHwxqeRMQ2GfYqTRVwytiIZKzDkCGbqilwq_33biP8sQ7fsdlXxINwEnSbFMMIOdGwUnXKHg6vZcBdwTgqeyBKG6MG54n0Y/s320/A270063A.png" border="0" /></a> <em>(1) maior endividamento dos indivíduos/famílias; </em><br /><em>(2) no caso de ser necessário 'cortar' no consumo, este acontecerá no que pode ser mantido 'invisível' <span style="font-size:85%;">(por exemplo, a comida)</span>, mantendo aquilo que seria socialmente inaceitável perder aos olhos de outros <span style="font-size:85%;">(família, amigos, colegas, vizinhos, etc.)</span>.</em><br /><br />Por isso, as palavras de Manuel Lemos <span style="font-size:85%;">(assumindo que o é dito é real e minimamente representativo do que se passa)</span> não descrevem uma realidade povoada de agentes que perderem completamente o sentido das prioridades: o seu comportamento só pode ser realmente compreendido e julgado à luz do carácter posicional de um conjunto de bens que se tornaram simbolicamente centrais, e da dinâmica de desigualdade actual provocada pela "descolagem" dos mais ricos: <a href="http://www.amazon.co.uk/Falling-Behind-Rising-Inequality-Middle/dp/0520902211/ref=sr_1_1?ie=UTF8&s=books&qid=1216596661&sr=8-1">uma desigualdade que não é má apenas para os pobres, mas também para as classes médias</a>.Hugo Mendeshttp://www.blogger.com/profile/05566359753338952544noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-7917205857057426406.post-89048675241632054292008-07-17T18:42:00.006+01:002008-07-18T17:53:24.740+01:00Círculos virtuososNuma sociedade onde a <a href="http://pensamentodomeiodia.blogspot.com/2008/07/importncia-da-confiana.html">desconfiança</a> e os baixos níveis de capital social têm tantas consequências negativas para o desempenho económico e para a equidade social <span style="font-size:85%;">(voltarei brevemente, como prometi, a esta questão)</span>, e onde os patrões parecem desconfiar tanto dos trabalhadores e vice-versa, iniciativas como a dos <a href="http://www.epis.pt/">Empresários Pela Inclusão Social</a> (EPIS) são bem interessantes. Mostra como podem ser criados círculos virtuosos pela acção conjunta de diferentes actores - com o apoio, mas sem a coordenação centralizada do Estado - com objectivos centrais para o país. Um largo grupo de autarquias já se associou aos projectos em curso, um dos quais visa colocar o referencial de escolaridade no 12.º ano, com particular incidência em zonas do país onde o insucesso escolar é bastante preocupante <span style="font-size:85%;">(como é </span><a href="http://jpn.icicom.up.pt/2007/12/18/paredes_camara_e_empresarios_unemse_no_combate_ao_insucesso_escolar.html"><span style="font-size:85%;">caso</span></a><span style="font-size:85%;"> do </span><a href="http://www.blogger.com/www.cm-paredes.pt"><span style="font-size:85%;">concelho</span></a><span style="font-size:85%;"> de </span><a href="http://dreamcity.blogs.sapo.pt/2892.html"><span style="font-size:85%;">Paredes</span></a><span style="font-size:85%;">)</span>.<br /><br />Este é o referencial para os alunos e escolas, mas para as <em>empresas</em> também. Este é um caso em que a persuasão e a cooperação entre empresários pode funcionar no sentido de elevar o capital humano dos trabalhadores - e talvez a EPIS acolhesse bem a excelente <a href="http://pensamentodomeiodia.blogspot.com/2008/07/apenas-uma-ideia.html">sugestão</a> do Renato -, substituindo a concorrência no mercado por práticas associativas capazes de alinhar os interesses e práticas do patronato com os de outros grupos sociais.Hugo Mendeshttp://www.blogger.com/profile/05566359753338952544noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7917205857057426406.post-3382174631324105302008-07-16T22:26:00.006+01:002008-07-17T09:38:54.137+01:00Apenas uma ideia<div align="justify">Em tempos de crise como os que estamos a atravessar é hora do Estado e, mais propriamente, do governo se virar para o tecido produtivo do país. Não só se justificam medidas concretas para as pequenas e médias empresas (algumas delas até têm sido anunciadas nos últimos meses), mas, acima de tudo, exige-se uma estratégia geral que enfrente os problemas estruturais. Tenho vindo a focar uma das vertentes que me parece ser das mais gravosas: <a href="http://pensamentodomeiodia.blogspot.com/2008/07/o-dualismo-categrico.html">a composição débil da classe empresarial que apresenta um enorme défice de qualificação</a>. Normalmente, aponta-se (e bem) o baixo nível de escolaridade dos trabalhadores como um dos principais factores do nosso atraso económico. Mas, esquece-se a situação, não menos problemática, dos empregadores. Dado o cenário, considero que seria interessante avançar-se com um programa geral de apoio às pequenas e médias empresas que enquadrasse a formação profissional dos empresários. Ou seja, fazer depender um conjunto de medidas de apoio financeiro (como as que têm sido postas em prática) – que incidem ou nos benefícios fiscais ou na redução controlada de juros aos empréstimos concedidos – da formação e qualificação profissional não só dos trabalhadores como dos próprios empresários. A economia portuguesa necessita de patrões com maior capacidade de investimento e, sobretudo, de inovação. Não há outra forma de dotá-los dessa capacidade senão apostar na sua qualificação. E para isso é fundamental a definição de uma série de deveres e de responsabilidades a partir de um contrato social (ou, se quisermos, a partir de um código de conduta empresarial).</div>Renato Carmohttp://www.blogger.com/profile/17270814504728093030noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-7917205857057426406.post-51124759566301744262008-07-15T17:46:00.003+01:002008-07-15T19:14:18.215+01:00Sobre o 'endividamento das gerações futuras'Uma das máximas do nosso tempo parece ser esta: «não endividirás as gerações futuras». <span style="font-size:85%;">(curiosamente, muitos dos que estão preocupados com a dívida pública e com as obras 'faraónicas' preferem ignorar o nosso legado ecológico.)</span><br /><br />Este raciocínio é perigosa e injustamente míope. Esquece que a <em>solidariedade intergeracional</em> é uma estrada com <strong>dois sentidos</strong>. Por ela não viajam apenas aquilo que os nossos filhos vão ter que pagar, mas aquilo que lhes deixamos – e que eles não produziram, mas vão usufruir. Estamos habituados a pensar desta forma em relação às famílias, mas a mesma lógica também se aplica às sociedades/economias nacionais.<br /><br />Para sermos mesmo rigorosos e quisermos que uma geração não pague as dívidas contraídas pela geração anterior, então temos de ser coerentes e impedir que ela usufrua da riqueza criada no passado. Assim, cada geração tinha que destruir tudo o que construiu/produziu para evitar que a geração seguinte usufruisse das auto-estradas, escolas, hospitais, bibliotecas, museus, descobertas e aplicações científicas, etc., etc. que a primeira construiu. Naturalmente, não devemos ignorar que as gerações futuras pagam sempre um <em>custo de oportunidade</em>: se as políticas que uma dada geração desenhou e implementou forem más e ruinosas, será a geração futura a pagar as suas consequências; se elas tivessem sido mais inteligentes e eficientes, a geração futura obterá os seus frutos. O problema é que aqui entramos numa lógica contrafactual mais complicada: <em>e se tivéssemos feito X em vez de Y?</em><br /><br />Depois, há coisas que 'não se pagam'. Por exemplo, a geração que nasceu imediatamente a seguir ao 25 de Abril <span style="font-size:85%;">(escreve-vos alguém que nasceu em 1976)</span> beneficia de um <em>bem público</em> para o qual não fez nada para obter: um <strong>regime democrático</strong>.Hugo Mendeshttp://www.blogger.com/profile/05566359753338952544noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-7917205857057426406.post-48658875819913608382008-07-15T00:04:00.004+01:002008-07-15T09:25:05.764+01:00Dualismo categórico II<div align="justify">Tinha reservado para um segundo post pegar na questão que deixo em aberto <a href="http://pensamentodomeiodia.blogspot.com/2008/07/o-dualismo-categrico.html">neste último</a>. Já que o Hugo se antecipou não me resta senão avançar com algumas reflexões, mas de uma forma mais atabalhoada do que estava previsto. O problema que caracterizei como dualismo categórico, tem como reflexo a permanente e muitas vezes inconciliável conflitualidade negocial que resulta, em parte, de uma estrutura social na qual pequenos patrões e trabalhadores comungam de um conjunto de constrangimentos, o baixo nível de escolaridade é somente um deles: <a href="http://pensamentodomeiodia.blogspot.com/2008/07/questo-econmica.html">num outro post</a> referi a precária situação socioeconómica de alguns pequenos patrões. </div><div align="justify">Em muitas comunidades rurais e periubanas a diferença ao nível dos estilos e modos de vida, dos processos de socialização, das práticas de sociabilidade entre os pequenos empresários e os trabalhadores assalariados não é muito acentuada, aliás, ela é mesmo muito próxima. Contudo, se, por um lado, a proximidade pode favorecer algum engajamento social no seio das comunidades. Por outro lado, essa proximidade - no acesso aos bastidores da vida social e profissional do outro (empregador ou trabalhador) - pode, ao mesmo tempo, provocar uma enorme desconfiança. Ou seja, num certo sentido, a proximidade comunitária e social pode ser indutora de maior distância ao nível das posições perante as relações de produção. Generaliza-se assim uma incapacidade em depreender para além do interesse individual limitado pelo ganho a curto prazo. Penso que este tipo de dualismo não é irresolúvel, mas integra alguns factores peculiares que devem ser considerados quando se apontam como horizontes a história e o percurso de outros países (mais a Norte).<br />Como tenho vindo a salientar, considero que o papel do Estado é decisivo, não só como mero regulador ou mediador, mas como agente capaz de constituir plataformas de negociação de maneira a gerarem e relançarem relações de confiança. Em certa medida, esse desafio passa por potenciar as redes comunitárias (e inter-comunitárias), de modo a que estas amparem e até resolvam algumas das rupturas vividas nas empresas. Ou seja, fazer com que as redes de proximidade social favoreçam a capacidade de negociação (laboral e não só) no sentido de perscrutarem o interesse mútuo (ultrapassando o mero ganho particular imediato). Essa capacidade depende, em parte, da <strong>localização da esfera pública</strong>, através da instituição de factores próprios de negociação e de participação (em articulação com escalas de organização regional e nacional). O problema de muitas destas comunidades resulta da completa ausência de um espaço público com a participação e o empenhamento de vários actores individuais e colectivos (sindicatos, associações patronais, autarquias, associações de desenvolvimento, associações culturais, etc.). Um espaço que desoculte dos bastidores as promíscuas e imprevistas conivências que geram rupturas sociais. Como já referi, esta capacidade implica uma alteração <a href="http://pensamentodomeiodia.blogspot.com/2008/07/vencer-ditadura-do-centralismo.html">no modo de actuar das agências públicas</a>. E, nesta questão, temos alguma coisa a aprender com certas <a href="http://pensamentodomeiodia.blogspot.com/2008/07/oramento-participativo-porque-no.html">experiências que se têm desenvolvidas em países situados mais a Sul</a>. </div><div align="justify">O dualismo identificado em posts anteriores não é inultrapassável, mas é suficientemente categórico para nos obrigar a analisar esta realidade a partir de diferentes perspectivas que, em muitos aspectos, são mais complementares do que exclusivas. Deveremos retirar das ciências sociais essa capacidade.</div>Renato Carmohttp://www.blogger.com/profile/17270814504728093030noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7917205857057426406.post-42450157345792712102008-07-14T19:21:00.011+01:002008-07-14T21:59:05.660+01:00Quando as instituições são mais importantes que a educaçãoO Renato tem escrito, e bem, sobre o défice de escolarização do patronato português. Parece-me essencial a identificação desta situação e a análise aprofundada desta variável, mais um (dos vários) problema(s) a nível estrutural que temos de ultrapassar. Mas parece-me ir longe demais transformá-la num alibi para o bloqueio acordos entre o capital e o trabalho e impeça estratégias corporatistas inteligentes.<br /><br />1. Olhando para a história, dá para perceber o porquê da minha desconfiança do peso excessivo das qualificações dos patrões <span style="font-size:85%;">(atenção: falo do peso desta variável na dimensão da <em>negociação e concertação social</em>, não da <em>modernização </em>das empresas; aqui, concordo com o Renato, o capital educacional dos proprietários é muito importante)</span>. No passado, a escolaridade destes (e de sindicalistas) era também baixíssima: com toda a probabilidade mais baixa do que aquela que os nossos patrões apresentam hoje. Pensemos nas bases dos Estados sociais lançadas na Europa no último quartel do século XIX por essa Europa fora, ou nos acordos realizados nos anos 30 do século XX, ou no período imediatamente pós-1945. Nem os patrões nem os sindicalistas eram, por certo, altamente escolarizados. E, todavia, o corporatismo floresceu.<br />Inversamente, e <em>ceteris paribus</em>, nem um MBA ensina um proprietário/gestor a valorizar o diálogo social e os direitos sociais (não são as <em>business schools </em>embriões da ideologia neo-liberal?), nem a alta qualificação dos sindicalistas consegue ultrapassar questões de estratégia política definida por partidos <span style="font-size:85%;">(Carvalho da Silva é, tanto quanto sei, doutorado em sociologia, e isso não muda a estratégia da CGTP).</span><br /><span style="font-size:85%;"></span><br />2. A questão aqui tem muito mais a ver, parece-me, com variáveis <strong>políticas</strong> e <strong>institucionalistas </strong>do que com variáveis <strong>cognitivas/educacionais</strong>: tem a ver com a estratégia política que determina centralmente o que os sindicatos devem fazer (negando a sua autonomia relativa); e tem a ver com uma série de factores estruturais da economia que influenciam decisivamente o comportamento dos parceiros sociais. Por exemplo, a teoria institucionalista mostra como a existência de centrais sindicais em competição directa provoca uma situação potencialmente desastrosa, originando uma corrida egoísta e irresponsável aos "direitos sociais", e a um contínuo <em>esticar a corda</em> independentemente dos efeitos que isso tenha na economia <span style="font-size:85%;">(porque tem naturalmente; por exemplo, não podemos aumentar o salário mínimo como nos apetece sem por uma larguíssima fatia do tecido económico com a <em>corda na garganta</em>)</span>; a somar a isto, esse efeito de competição e de reivindicação no limite irresponsável é reforçado se essas centrais sindicais cobrirem pouca parte da mão-de-obra: de novo, nenhuma delas tem incentivo para tomar em consideração o que acontece economia no seu todo. A mesma coisa acontece no lado do patronato: a concorrência entre confederações e fraca representatividade tornam mais complicadas as estratégias de concertação social e fornece incentivos a que, precisamente, parte dos patrões procurem "esticar a corda" para o seu lado.<br />A estrutura da nossa economia, com uma forte centralidade da pequena propriedade e a fraca capacidade de representaçao tanto do lado do patronato como do trabalho gera situações de dilema do prisioneiro e jogos de soma nula muito complicadas.<br /><br />3. Mais ninguém tem interesse em valorizar - a sério, e não retoricamente... - o diálogo social do que os sindicatos. É fácil perceber porquê. A concertação social, ou seja, o mecanismo de <em>voice</em>, é um mecanismo de coordenação alternativo ao mercado. Se o trabalho conseguir unir-se e alcançar acordos com o capital, não ganha só ideologicamente <em>(«ora vejam, a economia de mercado funciona, e talvez melhor, através das instituições corporatistas, e não pela concorrência num mercado aberto!»</em>), mas também estratégica e institucionalmente, reforçando a sua capacidade de gestão da economia nacional e mostrando ao capital que vale a pena usar os mecanismos de concertação e cooperação sócio-económica. Inversamente, se estes mecanismos não funcionarem ou forem sistematicamente desvalorizados pelo trabalho (ou parte dos seus representantes), o capital vai tirar as suas conclusões: <em>«se não nos entendemos por aqui a bem, só nos resta uma alternativa: fazer pressão para 'neo-liberalizar' as instituições e as políticas»</em>. Situações de ausência de diálogo e/ou bloqueio corporatista são o perfeito convite para o capital perder a paciência e a confiança nas instituições não-mercantis. O resultado é um <em>push </em>em direcção ao neo-liberalismo. Onde a <em>voice </em>não resulta, a <em>exit </em>é a única estratégia.<br /><br />4. Solução à vista? Não ganhamos nada em ser fatalistas. Mais: não nos podemos dar a luxo, sob pena de nunca alterarmos nada na nossa eficiência da nossa arquitectura institucional.<br /><em>Primeiro</em>, porque tanto o trabalho como o capital não são actores inimputáveis. Eles podem ser persuadidos de que há estratégias colectivas melhores e piores. O Governo <span style="font-size:85%;">(e outros actores individuais e colectivos, a começar pelos académicos interessados)</span> pode e deve desempenhar esse papel mediador.<br /><em>Segundo</em>, quando os sindicatos e os patrões têm dificuldade em entender-se em sede de concertação social, ou são poucos representativos dos actores económicos do país, devemos procurar criar-se um espaço de negociação alternativo, que se articule com este nível nacional. Esse foi durante muito tempo o segredo da <a href="http://www.amazon.co.uk/Union-Parts-Politics-Postwar-Political/dp/0801425867/ref=sr_1_1?ie=UTF8&s=books&qid=1216063670&sr=1-1">estratégia sindical alemã</a>, um país, que, ao contrário dos <a href="http://www.amazon.co.uk/Small-States-World-Markets-Industrial/dp/0801493269/ref=sr_1_1?ie=UTF8&s=books&qid=1216063696&sr=1-1">países europeus mais pequenos</a>, não conseguiu ao longo da segunda metade do século XX unificar a sua força de trabalho debaixo da <a href="http://en.wikipedia.org/wiki/German_Confederation_of_Trade_Unions">DGB</a>. No entanto, a sua performance económica e a legitimidade social do sindicalismo sempre aproximou a Alemanha do comportamento dos países pequenos. Como? Porque, à parte do nível de negociação nacional, os trabalhadores sempre tiveram 'voz' dentro das empresas ao nível dos conselhos dos trabalhadores. Não sendo 'dominados' pelos sindicatos com representação a nível nacional na DGB, estes espaços permitem tradicionalmente aos trabalhadores, em articulação com os patrões e com os sindicatos (a nível nacional), coordenar o esforço de ajustamento empresarial contínuo numa economia mais globalizada. Este sistema de representação <strong>dual</strong> é polivalente e flexível e, usado inteligentemente e com a cooperação patronal, permite encontrar estratégias de soma positiva.<br /><br />Já agora, aumentar o poder dos conselhos dos trabalhadores é algo que, por cá, a revisão do Código do Trabalho procura fazer. Vai resultar? Não sei, vamos ver. <span style="font-size:85%;">(mas que a CGTP não goste é, parece-me, um sinal muito interessante: será esta uma luta antecipada entre os sindicatos e os conselhos de trabalhadores?...)</span>.<br /><br />Mas de uma coisa estou certo. Ficar tudo na mesma não vai beneficiar os trabalhadores portugueses. É que convém não fazer como a avestruz e meter a cabeça debaixo da areia. Os nossos salários estão, em média, mais altos do que a nossa produtividade permitiria<span style="font-size:85%;"> (por favor, leia-se o </span><a href="http://econ-www.mit.edu/files/740"><span style="font-size:85%;">paper</span></a><span style="font-size:85%;"> que Olivier Blanchard escreveu sobre Portugal: discutir o futuro sem ter em conta estes elementos é como estarmos a comentar filmes diferentes)</span>.<br /><em>A questão não é <strong>se </strong>precisamos de fazer um ajuste de competitividade</em>. É <strong>como </strong>o fazemos. Ou é a <em>bem </em>ou é a <em>mal</em>. A <em>mal</em> é através da estratégia de choque pelo contínuo desemprego e fragmentação das relações laborais, isto é, da <em>desinflação competitiva</em>, que leva a uma baixa progressiva dos salários em contexto de conflito social e ecónómico. A <em>bem </em>é a estratégia de contínuos acordos entre capital e trabalho, numa adaptação inteligente a um futuro muito difícil <span style="font-size:85%;">(como têm feito, por exemplo, os </span><a href="http://www.amazon.co.uk/Dutch-Miracle-Welfare-Corporatism-Netherlands/dp/9053562710/ref=sr_1_5?ie=UTF8&s=books&qid=1216062408&sr=8-5"><span style="font-size:85%;">holandeses</span></a><span style="font-size:85%;">)</span>.<br /><br />Errar, pela enésima vez, os passos a dar sairá muito mais caro às gerações futuras do que putativas obras públicas mastodônticas. E por favor não façamos um mau uso das ciências sociais, legitimando um determinismo excessivo que só desresponsabiliza os actores colectivos. A luta contra os determinismos é precisamente aquilo a que chamamos <strong><em>política</em></strong>.Hugo Mendeshttp://www.blogger.com/profile/05566359753338952544noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7917205857057426406.post-61556944335444110402008-07-14T19:11:00.008+01:002008-07-16T22:45:10.057+01:00O dualismo categórico<div align="justify">Acabou de sair <a href="http://cies.iscte.pt/np4/?newsId=26&fileName=Indice_para_divulgacao.pdf">este livro</a>, <a href="http://cies.iscte.pt/">2º de uma trilogia sobre Portugal no contexto europeu</a>. Gostaria de focar alguns dados apresentados no primeiro capítulo que faz uma comparação transnacional da estrutura de classes, incluindo os respectivos perfis educativos. A partir dos dados do European Social Survey (2004), os autores comparam 22 países europeus tendo por base a tipologia de classes na qual vêm trabalhando há vários anos. Por intermédio de uma simples análise de clusters verificamos que Portugal faz parelha com mais dois países (a Grécia e a Polónia), que se distingue pela sub-representação dos ‘quadros técnicos e de enquadramento’: em Portugal ronda os 14% face à média europeia que se cifra nos 25%. Por seu turno, este mesmo cluster identifica uma sobre-representação para o nosso país na classe dos 'operários' e dos 'trabalhadores independentes'. De salientar que segundo esta tipologia, a Espanha integra o cluster onde a proporção de quadros é mais elevada (a média deste cluster é de 30%, mais do dobro que o anterior).<br />No entanto, ao considerarem os factores de socialização, como a mobilização de recursos educativos (por intermédio de uma comparação do número médio de anos de escolaridade), os autores apresentam uma distribuição similar em clusters. Também aqui Portugal continua a acompanhar a Grécia e a Polónia, mas, neste caso, encontra-se numa situação ainda mais afastada em relação valores médios. Destaca-se pela negativa o valor obtido pela classe dos ‘empresários, dirigentes e profissionais liberais’, cuja média de anos de escolaridade se fica pelos 7,8, muito distante dos 13,3 anos obtidos pelo total dos países. Essa forte disparidade também sucede nos 'operários' (5 anos em Portugal face a uma média total de 10,2) e nos 'trabalhadores independentes' (5 para 9,5, respectivamente). Por outro lado, é na classe dos quadros e técnicos onde a média nacional se aproxima mais da europeia (13,9 para 14,4).<br /><br />Este cenário reforça as tendências que <a href="http://pensamentodomeiodia.blogspot.com/2008/06/empregadores-pouco-qualificados.html">temos vindo a focar neste blogue</a>: em Portugal o problema de deficit de escolarização não é exclusivo das classes trabalhadoras (operários e empregados no sector terciário), ela atinge simultaneamente a classe dirigente e empresarial. Este factor fortemente dualista resultante de um modelo económico assente numa dupla precariedade - que não se restringe apenas aos baixos salários auferidos pelos trabalhadores, mas simultaneamente pela situação periclitante da actividade dos pequenos e médios empresários - é potencializador de conflitualidade social. Estando os vários agentes constrangidos a uma situação económica tão restrita, acaba por se estabelecer uma relação de forças quase directa na qual os parcos benefícios de uns se transformam em enormes desvantagens para os outros. Sendo a margem tão limitada, a capacidade de negociação entre os parceiros sociais facilmente se transforma numa guerrilha. Perante esta realidade complicada, parece-me que dificilmente (e infelizmente, digo) os sindicatos poderão assumir outra estratégia que não seja a defensiva, que passa pela recusa em perder direitos adquiridos. Sobretudo, porque ela assenta num pressuposto legítimo de desconfiança em relação à posição negocial, muitas vezes inconsequente, demonstrada pela situação socioeconómica instável dos patrões. Estamos assim perante um quadro atrofiante, na qual parece não haver resolução à vista.</div><div align="justify"></div>Renato Carmohttp://www.blogger.com/profile/17270814504728093030noreply@blogger.com0