quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Tendências

O post anterior o Hugo chama a atenção para um dado importante: Portugal é um dos países mais desiguais da Europa (e também da OCDE), mas isso não significa que os níveis de pobreza tenham aumentado expressivamente nos últimos anos. Os resultados do relatório da OCDE confirmam, parcialmente, esta evidência, tal como tive oportunidade de referir neste texto. Na verdade, dados mais recentes foram apresentados por Carlos Farinha Rodrigues, que publicou um estudo onde se confirma esta evolução (pode ser lido aqui). Nele se pode ler, por exemplo, que a proporção do rendimento disponível auferido pelos 20% mais pobres aumentou ligeiramente de 7,4%, em 1994, para 7,7%, em 2005. O problema é que no 5º quintil não se verifica uma diminuição da proporção do rendimento auferido (mantém-se nos 42,8%). Quem parece perder (em proporção) são os estratos de rendimento intermédio, situação que não é específica de Portugal.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Discutir o(s) capitalismo(s)


Nos últimos dias têm sido publicados alguns relatórios internacionais, em particular o relatório anual da Organização Internacional do Trabalho (apresentação aqui, sumário executivo aqui) e um da OCDE. Ambos incidem sobre a questão das desigualdades e crescimento, embora o primeiro uma forte ênfase na análise dos efeitos da globalização financeira sobre os dois primeiros tópicos. Vale a pena abordar alguns dos elementos nos próximos dias. É importante sublinhar, no entanto, o seu timing perfeito para discutir o presente o futuro do(s) capitalismo(s) a nível global.


Como ilustração, deixo este quadro relativo à evolução do rendimento disponível pelos agregados familiares entre meados dos anos 80 e 90, e entre meados dos anos 90 e meados desta década. Vemos que em Portugal (onde o último ano de referência é 2000, ver nota 1), durante o primeiro período, o rendimento dos agregados do quintil mais pobre cresceu mais lentamente do que o mais rico (taxa de crescimento anual de 5.7% contra 8.7%); mas entre meados dos anos 90 e o ano de 2000 o crescimento beneficiou os mais pobres: os agregados do quintil mais pobre viram o seu rendimento disponível crescer a uma média de 5% por ano, enquanto os do quintil mais rico 'apenas' cresceram a um ritmo de 4.4.% por ano.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Ritmos diferentes


Tem havido muito alarme e discussão sobre o desemprego de recém-licenciados, que tem aumentado nos últimos anos. Independentemente da proporção do problema, o quadro aqui colocado (retirado do Education at a Glance 2008, que pode ser consultado aqui) ajuda a perceber o que pode ter criado a situação actual: se em 1995 apenas 15% dos jovens (em idade habitual de finalização de um curso superior) completavam uma licenciatura (coluna Tertiary-type A), em 2006 era um terço da coorte que o fazia - 33%. Em pouco mais de uma década, a percentagem de jovens a sair com um curso superior mais do que duplicou no nosso país.
Isto ajuda a perceber as dificuldades actuais: a estrutura de formação universitária tem mudado de forma mais muito rápida do que a estrutura dos empregos.