segunda-feira, 22 de setembro de 2008

We are Americans

Enquanto estava a ver uns dados sobre desigualdades nos E.U.A., não deixei de notar algumas semelhanças ao nível da distribuição de rendimento entre este país e o nosso pequeno rectângulo. Por intermédio de um mero exercício analítico (vale somente como tal), comparei as percentagens sobre a repartição do rendimento total por 'quintil' referentes as estas duas economias nacionais. Para o caso português utilizei os dados divulgados por Carlos Farinha Rodrigues na última edição do Le Monde Diplomatique (edição portuguesa) e para a realidade Americana recorri aos valores apresentados neste livro (p.56):

.....................................................EUA (2004).... Portugal (2005)

1º quintil (20% mais 'pobres')..............4,2%................7,7%

2º quintil.........................................9,6%...............12,1%

3º quintil.........................................15,4%.............15,9%

4º quintil.........................................23,0%.............21,5%

5º quintil (20% mais 'ricos')................47,9%.............42,8%


A semelhança é impressionante. É uma comparação grosseira mas reveladora no que diz respeito aos níveis de concentração de rendimento em torno dos 20% mais ricos. Estamos perante dois países muito diferentes em quase tudo (área territorial, volume populacional, graus de riqueza e de desenvolvimento, modelo económico, modelo social, etc.). E, no entanto, em termos das desigualdades económicas (salvo as devidas proporções) estamos muito próximos. O que é estranho, dado que estas últimas três décadas representam para Portugal o período de implantação e suposta consolidação do Estado Social e democrático, enquanto que para o EUA estes são os anos de desmantelamento dos serviços (e dos direitos) públicos. Afinal, o que falhou em Portugal? Entre os americanos a discussão e os debates (sobre as raízes do problema e as políticas a tomar) têm sido intensos e, em certo sentido, abertos aos holofotes do resto mundo. Também aqui poderíamos continuar ser todos americanos e não ter receio do debate e da definição de alternativas políticas de governação.
Nota: O título deste post é obviamente provocatório.

4 comentários:

L. Rodrigues disse...

Talvez ajudasse ver numeros para os dois países há 35 anos. Tenho a impressão de que haveria pontos de partida bastante diferentes.

O estado social portugues nao redistribui de forma muito igualitária, suspeito também, com grande parte da riqueza a ir parar aos que já são ricos. Via, por exemplo, negócios como os da Lusoponte ou aquelas eternas derrapagens orçamentais em projectos do género.

Anónimo disse...

Há uma dimensão adicional que se pode explorar no contexto desta ideia comparativa. Por exemplo o que significa viver nos 20% mais pobres em Portugal e nos EUA? Do ponto de vista de poder de compra de bens essenciais, do ponto de vista de acesso a cuidados médicos, do ponto de vista de acesso a representação legal, acesso ao crédito, acesso à educação,etc.
Depois há uma coisa interessante, que em Portugal nem sempre sublinhamos, por exemplo, se não estou em erro, Portugal tem vindo a subir na lista de países com menor mortalidade infantil, os EUA, pelo contrário, descem. Uma destas comparações levada a fundo era um exercício muito bom.

PS: era interessante também ver qual a relação proporcional de rendimentos entre os extremos. Os 20% de topo e os 20% mais baixos.

Que te parece?

Renato Carmo disse...

Obrigado pelos vossos pertinentes comentários. Mas este post não tem ambições científicas, é meramente ilustrativo sobre uma coincidência nos valores de repartição do rendimento entre os dois países.

Um abraço, Renato.

Porfirio Silva disse...

Porque é preciso recomeçar a pensar (a menos que se pense que "a crise" foi um carnaval e já estamos em quarta-feira de cinzas...), permito-me interromper para sugerir uma visita a Para uma economia política institucionalista .