Em tempos de crise como os que estamos a atravessar é hora do Estado e, mais propriamente, do governo se virar para o tecido produtivo do país. Não só se justificam medidas concretas para as pequenas e médias empresas (algumas delas até têm sido anunciadas nos últimos meses), mas, acima de tudo, exige-se uma estratégia geral que enfrente os problemas estruturais. Tenho vindo a focar uma das vertentes que me parece ser das mais gravosas: a composição débil da classe empresarial que apresenta um enorme défice de qualificação. Normalmente, aponta-se (e bem) o baixo nível de escolaridade dos trabalhadores como um dos principais factores do nosso atraso económico. Mas, esquece-se a situação, não menos problemática, dos empregadores. Dado o cenário, considero que seria interessante avançar-se com um programa geral de apoio às pequenas e médias empresas que enquadrasse a formação profissional dos empresários. Ou seja, fazer depender um conjunto de medidas de apoio financeiro (como as que têm sido postas em prática) – que incidem ou nos benefícios fiscais ou na redução controlada de juros aos empréstimos concedidos – da formação e qualificação profissional não só dos trabalhadores como dos próprios empresários. A economia portuguesa necessita de patrões com maior capacidade de investimento e, sobretudo, de inovação. Não há outra forma de dotá-los dessa capacidade senão apostar na sua qualificação. E para isso é fundamental a definição de uma série de deveres e de responsabilidades a partir de um contrato social (ou, se quisermos, a partir de um código de conduta empresarial).
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
5 comentários:
Boa piada!
Gostava sinceramente de ver esta proposta aparecer no debate público, para assisitir à quantidade de desculpas esfarrapadas que os senhores empresários iam arranjar para justificarem não ter de voltar ao balcão da escola.
Olhe que não, olhe que não :)
A questão pode parecer de semântica mas no seu texto utiliza a palavra "patrões" como sinónimo de empresário. Lá está, não são patrões que são necessários. São necessários empresários e a diferença é abissal e não apenas de semântica. Os primeiros são simples gestores do corrente, os segundos inovam, arriscam, ganham, perdem, ... destes há poucos. De resto concordo a 1000%. A falta de formação empresarial é muito mais grave para a economia portuguesa que a falta de formação dos trabalhadores.
Caro Fernando,
Não me parece que o Renato use a palavra 'patrões' como sinónimo de 'empresários': o que me parece estar aqui realmente em causa é a relação perante a propriedade, não o que se o que se 'faz' com ela - que pode tender para uma postura mais 'capitalista' (que vive de rendas) ou mais 'empresarial' (isto é, mais 'arriscada').
Assumir que todos os 'patrões' são empresários naquilo que a palavra tem de significativo na relação com o risco e com a inovação seria muito optimista :).
Esta é, aliás, uma das questões em causa nesta discussão, dado que um patronato com poucas qualificações tenderá muito mais a 'imitar' do que 'inovar'.
Hugo
O IAPMEI tem tido programas de formação-acção para pequenos empresários. Como consultor colaborei num destes programas: o GERIR. Os resultados são porém lentos. Alguns comentários:
- os conteúdos são por vezes pouco adequados: boas intenções de quem organiza - IAPMEI,formadores e consultores - mas nem sempre sentido prático. E alguma incompetência também.
- o nível de partida de muitos dos pequenos empresários é de facto muito baixo.
- o programa é quase gratuito, o que origina alguma "desvalorização" do mesmo por parte do empresário que acaba por não lhe dedicar o tempo que deveria.
- dificuldades em pôr na prática os conhecimentos adquiridos: na pequena empresa, o empresário dedica-se a uma série de tarefas relacionadas com a sobrevivência da empresa e não consegue libertar-se para sofisticar o seu modelo de gestão.
De qualquer forma sempre encontrei vontade de aprender e de progredir e uma coisa que me espantou foi a capacidade de "empreender" de muitos. Claro que por vezes sem prudência.
Enviar um comentário