Como tenho referido, é preciso ter algum cuidado no modo absoluto como se lêem as estatísticas, digo isto por uma razão muito simples: não há estatísticas absolutas. O que há é tendências, probabilidades, correlações, etc. Vem isto a propósito do critério estatístico que se estipulou para medir a incidência ou risco de pobreza: 60% do rendimento mediano nacional (por adulto equivalente). É um critério que se universalizou de certo modo e que tem a vantagem de permitir comparações internacionais. No entanto, mesmo utilizando esta linha diferenciadora, nem sempre os resultados batem certo ou, pelo menos, na mesma direcção. Três exemplos:
1) Segundo a análise de Carlos Farinha Rodrigues entre 1989/90 e 2000 a incidência de pobreza aumentou em Portugal: de 17,6% para 19,1% dos indivíduos (18,3% em 1995). Estes dados são diferentes daqueles que têm sido divulgados e têm por base os cálculos do autor a partir de microdados recolhidos dos vários inquéritos aos orçamentos familiares realizados neste período temporal, ver p. 175.
2) No relatório sobre a situação social europeia, os autores fazem uma série de cálculos para averiguar a incidência de pobreza nos países europeus utilizando o mesmo critério – 60% da mediana do rendimento disponível – mas, neste caso, tendo por base não a mediana nacional mas a MEDIANA EUROPEIA. Ou seja, todos os países são comparados a partir da mesma linha de pobreza, uniformizada em PPS (paridades de poder de compra). Usando este critério, observa-se que em 2004 a proporção de portugueses abaixo da linha de pobreza rondava os 45% (o 8º país em 25), muito à frente das percentagens da Grécia e Espanha (25% e 26%, respectivamente), ver p. 22.
3) Mas há mais, se considerarmos a linha de 50% do rendimento mediano europeu (em vez de 60%), Portugal ultrapassa a República Checa (subindo para a 7ª posição dos países mais pobres da Europa), aumentando ainda mais a diferença em relação à Grécia e Espanha.
1) Segundo a análise de Carlos Farinha Rodrigues entre 1989/90 e 2000 a incidência de pobreza aumentou em Portugal: de 17,6% para 19,1% dos indivíduos (18,3% em 1995). Estes dados são diferentes daqueles que têm sido divulgados e têm por base os cálculos do autor a partir de microdados recolhidos dos vários inquéritos aos orçamentos familiares realizados neste período temporal, ver p. 175.
2) No relatório sobre a situação social europeia, os autores fazem uma série de cálculos para averiguar a incidência de pobreza nos países europeus utilizando o mesmo critério – 60% da mediana do rendimento disponível – mas, neste caso, tendo por base não a mediana nacional mas a MEDIANA EUROPEIA. Ou seja, todos os países são comparados a partir da mesma linha de pobreza, uniformizada em PPS (paridades de poder de compra). Usando este critério, observa-se que em 2004 a proporção de portugueses abaixo da linha de pobreza rondava os 45% (o 8º país em 25), muito à frente das percentagens da Grécia e Espanha (25% e 26%, respectivamente), ver p. 22.
3) Mas há mais, se considerarmos a linha de 50% do rendimento mediano europeu (em vez de 60%), Portugal ultrapassa a República Checa (subindo para a 7ª posição dos países mais pobres da Europa), aumentando ainda mais a diferença em relação à Grécia e Espanha.
4 comentários:
O "risco de pobreza" tem um carácter essencialmente local.
Está em "risco de pobreza" quem tem menos capacidade para aceder aos bens que lhe garanta as condições básicas de subsistência.
Numa economia de mercado, esses bens são comercializados com valores diferentes consoante as dinâmicas locais.
No seguimento disto, a definição que tem por base a mediana do rendimento Europeu é uma medida muito menos rigorosa do que a que tem por base a mediana do rendimento português (o título do teu post parece-me delicado...)
Um exercício muito mais interessante seria medir, por exemplo, o "risco de pobreza" por distrito, cidade ou região.
Já se é 50% ou 60% da mediana, é um problema que me parece muito mais interessante, até porque as distribuições de rendimentos não são estatisticamente iguais em todos os países.
- João
Concordo com tudo.
O título do post tem um sentido provocatório para chamar atenção sobre algumas leituras que absolutizam o carácter relativo dos indicadores estatísticos mais divulgados.
O estudo do Carlos Farinha Rodrigues, faz uma análise interessante em função da região e sobretudo da diferenciação urbano/rural, pena a série acabar em 2000.
Mais uma vez considero que estes e outros indicadores deverão ser apresentados tendo por base diferentes escalas. A mediana do rendimento europeu é grosseira, é um facto... mas é um exercício estatístico interessante e vale o que vale.
PS. Já agora, com que João é que estou a debater?
Renato, desculpa, estava convencido que a morada do blogue surgiria no comentário. João Jesus Caetano - Goodnight Moon.
Ok, um abraço!
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