sexta-feira, 6 de junho de 2008

Políticas com chão

Carlos Farinha Rodrigues, economista do ISEG, lançou no final do ano passado um livro importante sobre desigualdades e distribuição de rendimento no Portugal dos anos 90. No final do livro traça este perfil para o conjunto da sociedade portuguesa: “um modelo económico profundamente desigual, assente na coexistência de baixos salários e de profundas assimetrias nos salários mais elevados, um acentuar do fosso que separa as áreas rurais das urbanas como consequência do declínio da actividade agrícola e da concentração das grandes cidades, constituem elementos potenciadores do aumento das desigualdades e do acentuar dos factores de pobreza. O progressivo envelhecimento da população, associado a um crescente ‘desligar’ da actividade produtiva de largos sectores da população e à insuficiência dos esquemas de protecção social existentes, constitui uma outra causa do agravamento da desigualdade e da exclusão social” (p. 315).
Infelizmente, parece que este quadro não se alterou muito durante a presente década. Pelo contrário, existem sinais e alguns indicadores que apontam para o reforço de certas tendências. Refiro-me, nomeadamente, à acentuação da polarização social (e sua estrutural persistência), e ao incremento das desigualdades territoriais não só entre espaços rurais e urbanos, mas também, no interior das grandes malhas urbanas. No meu entender, para além das especificidades indicadas no post anterior pelo Hugo, estes são os hiatos mais pronunciados e mais difíceis de inverter. Urge, por isso, pensar-se em programas transversais que, por exemplo, convirjam políticas sociais com políticas de desenvolvimento regional e local. As desigualdades têm os seus territórios. E é nos territórios que se poderão empreender estratégias diferenciadas de intervenção política e social.

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