segunda-feira, 16 de junho de 2008

Ainda sobre os indicadores de bem-estar

Em vários posts neste blogue tem sido explorada a questão dos indicadores de bem-estar. Nos primeiros dias, a discussão centrou-se muito nos indicadores relativos à desigualdade de rendimentos: uma dimensão limitada, claro, mas que tem a vantagem de estar relativamente estandardizada a nível internacional e permitir comparações de geometria variável (que tornam, naturalmente, a imagem mais complexa do que aquela que se através de abordagem assente exclusivamente num só indicador). Mas este é um indicador entre vários, e não é nenhuma bala mágica, seja académica, seja politicamente (é com estranheza que sou remetido para a posição de quem defende 'apenas' o uso de indicadores estandardizados internacionais, necessariamente limitados, como os que dizem respeito à distribuição dos rendimentos – e classicamente construídos e explorados mais por economistas do que por sociólogos; aliás, há muito tempo que procuro apresentar múltiplos (novos) indicadores de desenvolvimento, bem-estar e riqueza de alcance internacional - por exemplo, aqui, aqui, aqui e aqui).

Os países nórdicos, por exemplo, lideram uma longa tradição no estudo das questões de bem-estar de um ponto de vista multidimensional através das suas Level of Living Surveys, conduzidas regularmente a nível nacional e usando baterias estandardizadas de indicadores sobre áreas diversas, dispondo cada uma delas de vários indicadores: os recursos económicos disponíveis no agregado familiar; a situação individual perante o trabalho; o estado de saúde; o nível de segurança da vida e da propriedade (i.e., exposição à violência); a rede de relações sociais;o nível e qualidade da educação, etc. (alguns dos dados e destas dimensões de bem-estar são explorados em alguns capítulos deste livro; alguns elementos sobre os trabalhos suecos aqui; em baixo pode-se encontrar uma tabela com as dimensões de nível de bem-estar e algumas das áreas cobertas pela survey sueca entre 1968 e 1991, retirada daqui).



É esta abordagem multidimensional e longitudinal - é importante chamar a atenção para o facto de estes estudos permitirem não apenas uma fotografia polaroid (como estudos num dado momento fazem) mas, dado que são recolhidos regularmente, uma visão de como os problemas evoluem, de preferência em interacção com o ambiente macroeconómico e medidas políticas tomadas – que pode e deve alimentar a reflexão simultaneamente académica e política em torno do desenho, implementação e eficácia de políticas públicas de promoção do bem-estar e de combate às desigualdades - e integrando, sempre que possível, os resultados de estudos mais contextualizados, seja de cariz quantitativo ou qualitativo (muito importantes para captar fenómenos que correm sempre o risco de ficar sub-avaliados ou de passar despercebidos em estudos mais estandardizados).

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