Ou seja, a correlação entre a desigualdade de salários e a desigualdade de qualificações é, em Portugal, altíssima, quando fazemos as devidas comparações internacionais.
Isto não significa que este seja o único factor responsável pela desigualdade no nosso país, e não significa que seja o único espaço que necessita de intervenção das políticas públicas - o reforço/centralização da concertação social e da negociação colectiva, como o João refere, são muito importantes, tal como é a taxa de cobertura sindical.
Os quadros seguintes - retirados deste livro e deste livro, respectivamente, mas que não incluem Portugal - mostram a importância destas variáveis para o conjunto dos países mais ricos.
Mas atenção: nos países aqui presentes não é apenas a compressão salarial que é muito maior que em Portugal - a compressão das qualificações também o é.
As qualificações ou as instituições? Ambas, claro está, contando mais as primeiras ou mais as segundas em função da história de cada país. Mas também a estrutura do tecido económico: a pequena empresa - hegemónica em Portugal - é quase sempre antitética de altas taxas de sindicalização e da centralização da negociação colectiva e, por isso, da compressão salarial: o tal comboio que varreu quase toda a Europa Ocidental nas décadas que se seguiram à 2ª Guerra Mundial - e que Portugal não apanhou a tempo.
Nota: o índice de Gini do Eurostat para Portugal é sistematicamente mais elevado do que o valor publicado pelo INE. Um dos motivos é porque o Eurostat não inclui a componente de rendimento não monetária, muito importante nos orçamentos das famílias portuguesas.
1 comentário:
Para além do referido, existe o problema de instrumentalização sindical, fenómeno muito prevalente em algumas sociedades com pequenas variações do modelo eleitoral como o português. Os dados do Eurostat podem ser consultados de forma condensada aqui.
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