Como referi num post anterior, existe uma relação muito estreita entre desigualdades e territórios. No caso de Portugal essa relação é flagrante: quando se considera a diferenciação territorial - seja entre espaços rurais e urbanos, seja no interior das áreas urbanas, entre, por exemplo, bairros centrais e periféricos - tendo por base uma dada modalidade de estratificação (em classes, categorias socioprofissionais ou em distribuição de rendimento), as correlações tendem a subir consideravelmente. Focámos isso a propósito do estudo de Carlos Farinha Rodrigues, mas poderia referir outros estudos, alguns dos quais participei, e que demonstram que a variável território tem um efeito propulsor sobre as desigualdades sociais. Infelizmente, a sociologia tem-se vindo a afastar destas variáveis “clássicas” (classes sociais, territórios, rural-urbano), prematuramente em meu entender. Numa sociedade, como a nossa, em que em que as componentes líquidas da pós-modernidade (metáfora cara a um famoso sociólogo) desaguaram quase simultaneamente sobre os pilares de uma modernidade que ainda estava em construção, continua a ser pertinente voltarmos às tradicionais dualidades estruturais. Estou convencido que elas revelarão as discrepâncias mais relevantes e continuam a ser os melhores indicadores para a implementação de políticas públicas que pretendem tornar Portugal um país menos desigual. Uma abordagem agregadora que cruze o estudo das disparidades sociais, económicas e territoriais parece-me não só fundamental como representa o melhor suporte para uma política de coesão. A nível europeu há alguns trabalhos interessantes, como este, que a partir de uma perspectiva agregadora identifica os pontos fulcrais de divergência (e convergência) entre os países da União Europeia.
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