Quanto mais leio sobre a questão das desigualdades em Portugal, mais tenho uma certeza: não é possível olhar para este fenómeno apenas na base de indicadores simples. O índice de Gini é um coeficiente interessante para comparação internacional, mas ofusca toda uma realidade bem mais complexa. O mesmo se aplica na definição da linha de pobreza (60% da mediana do rendimento disponível) a partir do qual se separam os supostos “pobres” dos “não pobres”. A luta entre estatísticas casuísticas, como se fossem tiradas da cartola, não é o melhor caminho para se descortinar as reais dimensões das desigualdades. Nestes dias tem-se falado muito da relação directa entre a assimetria social e a pobreza. De facto, esta relação não é assim tão simples. Se o fosse, não haveria grande dificuldade em resolver, ou pelo menos, em atenuar os níveis de polarização social. Na verdade, em Portugal, nos últimos 10 anos, os níveis de risco de pobreza diminuíram (não na intensidade desejada, é certo), mas isso não teve efeitos directos na redução, na mesma ordem, das assimetrias sociais. A pobreza atenuou-se um pouco, mas a sociedade não se tornou mais igual, pelo contrário, entre os níveis de rendimento superior e os mais baixos a distância aumentou. E para reduzir essa distância não chega reduzir a pobreza. É preciso mais!
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1 comentário:
'Estamos mais ricos, porque os ricos nunca ganharam tanto e os pobres são números quando interessam, porque à exepção disso nem figuram nos centros de emprego'. Como consequência da nossa riqueza actual e enrequicemento, 'os jazigos vão ter de voltar a ser adquiridos pelos mortos, para financiarem as actividades extra das freguesias'.
Este país está tão bem que nem os mortos têm direito a descanso eterno, mas mais uns aninhos e ainda vamos ter 'Belmiro de Azevedo à frente dos cemitérios privatizados'.
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