quinta-feira, 12 de junho de 2008

À margem

Deixei no meu outro espaço um post mais político do que aqueles que eu e o Renato concordámos que deviam constituir este blogue, que pretendemos mais analítico e menos 'político-partidário'. Dado que a reflexão se liga a questões que tenho abordado aqui nos últimos dias, fica aqui o link e um excerto:

«Falta o mais importante, talvez, à esquerda.
Implica que aceitemos que 'socialismo' e 'social-democracia' são, enquanto estratégias económico-políticas, coisas diferentes. Implica que o Estado (pós-)industrial deve consumir menos recursos que o Estado social. Implica que o objectivo da conquista dos meios de produção deve ser substituída pela optimização dos meios de redistribuição. Implica que aceitemos a destruição criativa Schumpeteriana, sempre complementada e compensada por formas de redistribuição criativa. Implica que se aceite a legitimidade da economia de mercado enquanto mecanismo (não-absoluto!) de coordenação societal, que pode e deve alimentar um capitalismo de bem-estar

3 comentários:

CLeone disse...

Obrigado, já tinha lido. E destacaria os parágrafos seguintes a este.

Pedro Viana disse...

A defesa do bem-comum como objectivo último da política de Estado encontra-se essencialmente à Esquerda. É por isso óbvio que a Esquerda naturalmente defende políticas que (acha que) beneficiam a grande maioria da população. O que claramente contradiz o que o Hugo parece por vezes dizer: que a Esquerda (radical/socialista) tende a falar apenas para ideólogos, defendendo ideologia sem olhar às consequências. Não se pode pressupôr que o discurso político, que necessariamente é confrontacional (à Esquerda e å Direita, e é-o porque funciona!), e eventualmente pouco apelativo para o "centro", implica que as políticas propostas nesse confronto se destinam apenas às franjas mais ideológicas do eleitorado. Por exemplo, as propostas do BE ou do PCP são feitas grande parte das vezes na convicção de que beneficiam a grande maioria da população, não se destinando apenas aos "seus eleitorados".

Infelizmente, o discurso do Hugo cai sobremaneira no tipo de discurso tecnocrático segundo o qual há, "obviamente", apenas uma maneira "certa" de fazer as coisas. E o seu parágrafo que começa por "Resumindo" traduz exactamente essa visão, que tenta contrapor à "ideologia" a "razão" baseada em "factos" empíricos. No entanto, a ideologia permeia o próprio discurso do Hugo (mesmo que aparentemente contra-vontade): a defesa do bem-comum, do Estado Social, do "capitalismo de bem-estar". Tudo isso resulta, no fundo, da aceitação de pressupostos básicos, que constituem não mais do que uma ideologia, tão "politicamente correcta" como qualquer outra.

Quanto ao parágrafo claramente mais provocador:

"(...) Implica que o Estado (pós-)industrial deve consumir menos recursos que o Estado social.(...)"

Porquê? Não vejo de como tal decorre do que foi dito anteriormente, pelo contrário. O Hugo reconhece que as grandes despesas do Estado Social são as pensões e a Saúde, e elogia medidas como o Complemento de Pensão para idosos (que devia ser alargado) e defende melhorias nos cuidados de saúde públicos. Acha que consegue isso diminuindo as despesas públicas, ou seja o Estado Social?!...

"Implica que o objectivo da conquista dos meios de produção deve ser substituída pela optimização dos meios de redistribuição."

Quem defende ainda à Esquerda a nacionalização maioritária da Economia? Apenas se defende que certos sectores devem estar sob alçada do Estado. O que o Hugo parece propôr, no limite, é que as pessoas vendam a sua dignidade: estarem disponíveis para sacrificar ganhos sociais, como por exemplo maior controlo sob o que se passa no seu local de trabalho, por mais dinheiro. Essa não é a minha ideia do que consiste em defender o bem-comum. Mas, claro, os conceitos de bem-comum variam de pessoa para pessoa. O dinheiro para mim não tudo, nem, acho, para a maior parte das pessoas (o tal "centro").

"Implica que aceitemos a destruição criativa Schumpeteriana, sempre complementada e compensada por formas de redistribuição criativa."

Não, não implica. Porquê? Mais uma vez, devem as pessoas sacrificar a sua dignidade por (eventualmente...) mais dinheiro (i.e. crescimento económico)? Eu, não, obrigado. Se o Hugo acha que a maioria das pessoas, o tal "centro", pensa assim, talvez esteja bem enganado.

"Implica que se aceite a legitimidade da economia de mercado enquanto mecanismo (não-absoluto!) de coordenação societal, que pode e deve alimentar um capitalismo de bem-estar."

Coordenação societal?! Acho que aqui o Hugo nnao se dá bem conta do que está a dizer. Parece confundir a esfera social com a económica. (Quase) toda a esquerda aceita hoje que o mercado tenha um papel relevante na esfera económica da sociedade. Mas de maneira nenhuma aceita que mecanismos de mercado, com a teia de relações de poder extramamente desiguais que gera, passem a reger o modo como as pessoas socialmente se relacionam entre si. Se não houve confusão, então o Hugo não só se contradiz com o qeu disse anteriormente, como está bem mais à Direita do "centro" do que julga.

Hugo Mendes disse...

Caro Pedro Viana, debato consigo no Veu2, está bem?

Hugo